A mãe caminha com os filhos.
Anda apressada.
Conversa com o primogênito (cinco anos?)
- À meia noite você deve dar um pulo.
Nessa hora o ano começa.
- Por isso é um ano novo?
Por que ele vai chegar?
No carrinho de bebê
há outro filho na cena.
Pisca.
Ano novo: igual e diferente.
Quando ele chegar - novinho -
no dia seguinte será outro.
Ao longo dos dias corremos:
um banho rápido
um cochilo.
O almoço com um amigo e,
depois, vez por outra,
um pulinho no supermercado ou no banco.
O mergulho na imensidão
ou, até mesmo uma caminhada
antes do dia desaparecer.
O descanso, fluxos
às vezes nada suaves.
Escrevo :
uma onda - outra -
e um resto branco na areia.
(E somos 7 bilhões de pessoas no mundo).
Escrever, deixar correr a mão... Contar histórias, narrar, traduzir. Proteger nossas florestas, nossos índios, nossa cultura, nossa arte e nossos artesãos. Escrever, sempre!
sábado, 31 de dezembro de 2011
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
Poemas de Wislawa Szymborska em português
- No dia 25.12.2011 ganhei de uma amiga o livro Wislawa Szymborska [poemas], na tradução brasileira de Regina Przybycien editada pela Companhia Das Letras.
- A foto de capa em p/b – com a poeta diante de uma xícara grande de café, o cigarro entre os dedos da mão direita e a fumaça sendo exalada – enfatiza o gesto de olhar apertado e guardado à reflexão.
- Alguns poemas despertam em nós, seus leitores, o gosto pelas “perguntas ingênuas”, nomeadas “as mais urgentes”.
- Saímos da leitura de seus versos, minha cara Wislawa, em diálogo com a pedra; sem certezas nem verdades.
Na simplicidade tanto quanto na densidade desta escrita, permaneci atenta e atônita. Recolho palavras da poeta nos 13 primeiros versos do poema “Fim e começo”:
Depois de cada guerra
alguém tem que fazer a faxina
Colocar uma certa ordem
que afinal não se faz sozinha.
Alguém tem que jogar o entulho
para o lado da estrada
para que possam passar
os carros carregando os corpos.
Alguém tem que se atolar
no lodo e nas cinzas
em molas de sofás
em cacos de vidro
e em trapos ensanguentados.
Os versos de Wislawa abrem a cena do que hoje podemos verificar, inclusive pela tv, nos momentos de guerra quando os corpos, as coisas e os entulhos estão misturados como lixo (provocado pelo próprio homem): um "real" insuportável e sem encobrimento algum.
Quero afirmar a importância deste trabalho de tradução, que nos coloca em contato com tempos distintos de guerras distintas, onde podemos descobrir nos versos szymborskianos – também a relva ou o capim e “namorar nas nuvens” da boa poesia; essa escrita depois... e depois de Auschwitz.
Quero afirmar a importância deste trabalho de tradução, que nos coloca em contato com tempos distintos de guerras distintas, onde podemos descobrir nos versos szymborskianos – também a relva ou o capim e “namorar nas nuvens” da boa poesia; essa escrita depois... e depois de Auschwitz.
S.R.
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
Sem título
Embrulhados nos céus
as nuvens as estrelas
os anjos os santos
e até mesmo os aviões
De repente as chuvas os trovões
Neste abismo
a luz o fogo-fátuo
o escuro o silêncio
os sonhos
No firmamento
g i r a m os astros
e a “partícula de Deus”
D’onde e para onde
embrulhadas nos céus
as palavras e as coisas ?
domingo, 25 de dezembro de 2011
sábado, 17 de dezembro de 2011
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
domingo, 4 de dezembro de 2011
50 anos depois
Cabelos rabiscados de névoas.
Areias da manhã:
revejo os pássaros da infância,
costumava guardá-los no grande viveiro de arame.
Domingo, com as mãos ligeiras,
ajudava meu pai a recolher
p i p i r a s.
Elas beliscavam o mamão doce.
Eram dias incomparáveis de calor amazonense.
Os cabelos - amarrados em um rabo de cavalo - deixavam
ao sol a tarefa do brilho.
O verde da grama formigava meus pés.
Café da manhã prolongado com suco de cupuaçu ou de maracujá.
Realidade feita de gestos.
Bico vermelho, penas negras.
Pequeninas.
Sorriam ao tocar as duas faces do mamão aberto.
Recolhíamos os sons e as cores,
guardávamos em silêncio os pássaros - eu e meu pai -
para soltá-los logo depois.
Cabelos rabiscados de névoas.
Entre meu pai e eu, dois gestos.
Areias da manhã:
revejo os pássaros da infância,
costumava guardá-los no grande viveiro de arame.
Domingo, com as mãos ligeiras,
ajudava meu pai a recolher
p i p i r a s.
Elas beliscavam o mamão doce.
Eram dias incomparáveis de calor amazonense.
Os cabelos - amarrados em um rabo de cavalo - deixavam
ao sol a tarefa do brilho.
O verde da grama formigava meus pés.
Café da manhã prolongado com suco de cupuaçu ou de maracujá.
Realidade feita de gestos.
Bico vermelho, penas negras.
Pequeninas.
Sorriam ao tocar as duas faces do mamão aberto.
Recolhíamos os sons e as cores,
guardávamos em silêncio os pássaros - eu e meu pai -
para soltá-los logo depois.
Cabelos rabiscados de névoas.
Entre meu pai e eu, dois gestos.
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